Preciso de um tempo.
Tempo pra não fazer nada, como agora.
Ir pra longe, pelo menos em pensamento.
Não espero grandes coisas, não desejo nenhuma reviravolta.
Tudo é bom, até então.
As vezes eu sinto como se quase estivesse fazendo parte de algo, me adaptando a vista das janelas, entendendo as outras pessoas, sentindo coisas que são importantes pra mim, deixando pra trás sentimentos vãos por pessoas vãs.
Então, quando eu quase me acostumo, o mês vira. A lua some. A maré sobe.
As perguntas me atormentam a cada pensamento: "O que faz com toda essa acomodação? Pra que tanta atenção ao que é vago? Por que não foge desse trilho enquanto é tempo? Enquanto o lado que indaga ainda vive?"
Eu deveria achar estranho combinar o que vem de fora com o que eu sinto aqui dentro? As placas se movem e eu sinto meu sangue correr; as pessoas falam e eu sinto minha pele esfriar; eu vejo hoje as mesmas estrelas de ontem e me vem uma vontade de sorrir... sorriso discreto, de canto de boca, que ninguém mais precisa ver.
Eu sou assim, tão estranha, por ter um coração vazio e continuar sentindo, e continuar vivendo, e continuar sorrindo?
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