28 de maio de 2015

Island of the sun

Eram histórias banais e reais nos diários de 10 anos de idade. "Tive matemática, voltei pra casa, dormi cedo, dormi tarde, comi, respirei". A maioria das brincadeiras realmente legais não estão escritas e tentei me lembrar o porque. Eu e meu irmão compartilhávamos de amigos imaginários, a Carol e o Felipe. Eles existiram por muito, muito tempo. Eu não entendo como funcionava a "mecânica" de tudo, mas funcionava e como funcionava! A Carol era muito mais "certinha" que eu, ela era a cabeça do grupo. O Felipe era um pouco mais peralta e ativo que meu irmão e eu imagino se isso não era uma forma de enfatizar um possível traço de personalidade nessa idade. Mas era incrível como sabíamos o que cada um pensava. Nós 4 nos entendíamos muito bem. Não sei se é relevante explicar, mas conhecíamos a família dos nossos amigos, e inclusive os amigos em comum, que participavam também das nossas histórias (!). Tudo se encaixava de uma forma recíproca.

Essas histórias não estavam nos diários porque eu me preocupei mais em vivê-las. Quando tinha papel nas mãos, me concentrava nos fatos rotineiros e, talvez, reais demais. Ainda não tenho uma explicação melhor, mas talvez se assemelhe ao fato de passar períodos sem escrever por aqui. Estou vivendo. 

Tudo se encaixava de uma forma recíproca. E foi nessa época que eu aprendi a ouvir. Eu contava as minhas histórias e dava espaço para ouvir outras histórias. Não conheci meus amigos imaginários decidindo que iria tê-los. Foi tão natural quanto perceber que alguém está entrando na vida da gente. O que eu concluo hoje é que eu só consegui imaginar o mundo de uma forma diferente porque eu estava segura. O diário da realidade estava lá, eu sabia quem era e qual era meu papel.

E antes que haja questionamento sobre como duas crianças podem criar coisas e aprender com elas, eu digo: apresentamos nossos amigos à poucas pessoas da nossa rua e foram acolhidos muito bem. Essa era a segurança real. Respeitar e ser respeitada, ouvir e ser ouvida. Éramos verdadeiros e isso significava algo.

Depois de algum tempo, mais precisamente uns 5 anos depois, a segurança foi dando lugar às dúvidas. Período que dificilmente alguém passa sem um arranhão ou uma certa queixa. Um pouco apagado da memória, outro tanto ainda pairando anos atrás nos textos que deram início aqui.

Mas uma coisa é certa: a segurança de quem eu sou e o que penso, o que falo e como ajo parece ter sobrevivido tão nítida como era. Não ontem, mas hoje. Eu me conheço e me tornei minha melhor amiga de 10 anos de idade.

"On an island in the sun
We'll be playing and having fun
And it makes me feel so fine
I can't control my brain [...]"


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