30 de janeiro de 2017

A dor de não aceitar a continuidade

O fato de o ser humano muitas vezes se sentir superior ou alheio à natureza ofusca um entendimento natural da própria vida.

Nos momentos em que o coração está machucado e a mente cheia de dúvidas, se nega a perceber que esse é um estado temporário, que "a tempestade sempre passa". E se surpreende quando isso de fato acontece. Da mesma forma, a felicidade não é duradoura ou contínua e é frustrante esperar que ela realmente seja. Por mais que tudo esteja aparentemente em ordem consigo, há um mundo inteiro se movendo e imprimindo as maiores dores e alegrias diariamente.

A flor de um ipê aberta no auge do verão talvez não saiba que vai cair e morrer. Aparentemente, no inverno ela desaparece e não volta mais. Mas, nós aqui de fora, sabemos que não é bem assim. A flor se esconde no chão, mas irá novamente brotar na próxima estação.

O que seria da flor se ela não quisesse mais ser flor? Se não quisesse mais continuar? Há uma dor imensa na recusa de ser. Não controlamos os ciclos e nos afetamos por eles, sem saber que também somos flor aberta e exuberante, como também somos semente introspectiva debaixo da terra.

O declínio de nossos ciclos pode ser visível ou latente, mas sempre está ali de várias formas: o fim de um relacionamento, a saída de um emprego, a indecisão de caminhos com um diploma na mão, a morte de alguém que amamos.

Talvez a compreensão do valor dos declínios não seja possível à nossa mente hoje, nesse momento em que vivemos no mundo. Mas a natureza parece não falhar... e sempre nos entrega uma nova primavera.

Em um mundo de frio emocional e inverno interior, talvez não tenhamos conhecido a primavera ainda. Mas que possamos sempre contar com a sua chegada.

Mesmo que seja só dentro da gente.