12 de setembro de 2016

O som mais bonito do mundo

Não faz muito tempo - apesar de eu não identificar o exato momento - acabei descobrindo o som mais bonito do mundo. Talvez a descoberta não tenha surgido em um estalo, mas gradativamente o som foi ficando mais familiar pra mim. Foi como se, ao ouvir, eu tenha me deparado com sua existência bem ali do meu lado.

Até ali eu tinha um nervosismo contido, uma ansiedade muda. É estranho colocar em palavras coisas que eu achava que faziam parte do que eu sou. Mas era mais ou menos isso: uma inquietude que, por ter surgido do nada, eu não sabia que estava ali havia tanto tempo. Essa sensação me fazia entrar em uma busca incessante por significado até nas coisas mais simples. E, ao não encontrar nada disso, nem compreender os sentimentos - principalmente os meus - eu me tornava totalmente avessa à eles. Eu era consciente da indiferença, do desdém que eu mesma construía.

E então surgiu o som, tão quente e tão leve, capaz de flutuar no topo do mais alto muro já construído. Um som que vinha em forma de riso e que não buscava nada mais complexo do que isso. A minha mente ainda dava várias voltas tentando decifrar o que estava na minha frente, tentando montar um quebra cabeça provavelmente muito complexo. Mas não existia complexidade. Não havia quebra cabeça algum. Era tudo muito simples e claro. Eu só precisava entender que nem tudo estava escondido, nem tudo estava longe e nem tudo era difícil de se alcançar. Não haviam mais altos e baixos. Enfim era tudo equilíbrio.

Muitas coisas não tem começo nem fim exatos. Não tem forma, quantidade ou extensão. Algumas coisas também não são tão complexas quanto a gente faz ser. Todo o meu esforço em compreender, ponderar e decifrar sentimentos seria em vão se eu não conseguisse reconhecer o som mais bonito do mundo que, ao chegar aos meus ouvidos, me faria querer sorrir também.


Little Oil Art