9 de fevereiro de 2011

Do que tive e o que ficou.

Há um tempo eu morei em um lugar bem diferente daqui. Era uma praia de poucos turistas e alguns pescadores. Em toda a costa marítima tinha luz clara e dócil o dia todo e a noite era uma penumbra de ondas no mar. Não era bom morar lá por ser bonito, mas sim por cada parte do lugar dizer “eu estou aqui pra você”. Não havia como não se sentir bem lá. Quando eu entrava na água do mar, mais precisamente a 13:30 da tarde, eu podia ver, a uma altura de 2 metros abaixo da água, a cor do céu azul. Se existe a cor azul-turquesa e azul-anil, essa era o azul-paraíso. Abrir os olhos sob a água era como chorar depois de muito tempo – olhos quentes e brilhantes, testa franzida e a garganta presa, o ar querendo sair.
Mas eu conseguia ver tudo, mesmo existindo somente azul e raios brancos do sol, eu via quantas cores mais poderiam conter ali embaixo. As frestas de luz do sol que atingiam a areia branca pareciam se unir, e me davam uma sensação agradável de segurança pela profundidade poder ser visível.
Hoje eu estou aqui, de frente a uma janela pequena com uma visão retangular da noite. Não ouço barulho de ondas nem imagino animais marinhos no bravio mar noturno. Apenas vejo luzes amarelas e azuis – lâmpadas, alarmes, vidros e espelhos. Imagino um violão tocando alguma música que faça o coração subir em escalas. O trem passa e quase abafa a minha música imaginária.
Me deito toda noite sozinha em uma cama acolchoada em vermelho e ocre, quente demais para o verão, fria demais para o inverno.
Alguns devem estar pensando "loucura se mudar de um lugar assim", outros devem ter feito a escolha por opção.
Mas nada pode redirecionar tanto uma vida quanto um forte desejo no coração.
Mesmo que tenha se perdido, eu sei que o céu que vemos é o mesmo em todos os lugares.

2 de fevereiro de 2011

Uma boa safra


É meio estranho, pode até parecer presunção, mas de um pouco mais de 2 anos pra cá sinto como se cada passo que eu desse alguém estivesse olhando, calculando, medindo as minhas ações. Paranóia, paranóia. Acho que foi mais pelas mudanças em mim do que nos outros, bem nesse periodo. Eu to viajando, eu sei. Mas é bom quando temos a certeza de estar no caminho certo, ou rumando pra ele e sentindo, e fazendo e vivendo coisas importantes. E é assim.