Essas histórias não estavam nos diários porque eu me preocupei mais em vivê-las. Quando tinha papel nas mãos, me concentrava nos fatos rotineiros e, talvez, reais demais. Ainda não tenho uma explicação melhor, mas talvez se assemelhe ao fato de passar períodos sem escrever por aqui. Estou vivendo.
Tudo se encaixava de uma forma recíproca. E foi nessa época que eu aprendi a ouvir. Eu contava as minhas histórias e dava espaço para ouvir outras histórias. Não conheci meus amigos imaginários decidindo que iria tê-los. Foi tão natural quanto perceber que alguém está entrando na vida da gente. O que eu concluo hoje é que eu só consegui imaginar o mundo de uma forma diferente porque eu estava segura. O diário da realidade estava lá, eu sabia quem era e qual era meu papel.
E antes que haja questionamento sobre como duas crianças podem criar coisas e aprender com elas, eu digo: apresentamos nossos amigos à poucas pessoas da nossa rua e foram acolhidos muito bem. Essa era a segurança real. Respeitar e ser respeitada, ouvir e ser ouvida. Éramos verdadeiros e isso significava algo.
Depois de algum tempo, mais precisamente uns 5 anos depois, a segurança foi dando lugar às dúvidas. Período que dificilmente alguém passa sem um arranhão ou uma certa queixa. Um pouco apagado da memória, outro tanto ainda pairando anos atrás nos textos que deram início aqui.
Mas uma coisa é certa: a segurança de quem eu sou e o que penso, o que falo e como ajo parece ter sobrevivido tão nítida como era. Não ontem, mas hoje. Eu me conheço e me tornei minha melhor amiga de 10 anos de idade.
"On an island in the sun
We'll be playing and having fun
And it makes me feel so fine
I can't control my brain [...]"