Não sei bem como constatei isso (eu sempre tive muitas dúvidas) ou em que época da vida acabei me aperfeiçoando mais, porém percebi que sou dotada de bem pouca ansiedade. À primeira vista pode parecer tranquilidade ou paciência. Mesmo assim, às vezes eu falo demais, converso rápido, faço muitas coisas e estou sempre sem tempo pra nada, mas foram poucas às vezes que meu humor se alterou a ponto de causar estranhamento às pessoas ao meu redor. “Mas como assim? Seu signo é gêmeos”, me disseram.
Então talvez essa ausência de ansiedade veio naturalmente devido ao fato de eu ter nascido em berço de ouro e me sentir segura... Bom, eu não tive isso. Acredito que ver meus pais trabalharem o dia inteiro pra pagar as contas enquanto eu terminava o ensino médio em escola pública não sejam fatos suficientes pra me tornarem uma pessoa segura e sem ansiedade.
Pode ter sido então a minha convicção sobre o que cursar na faculdade ou com o que eu gostaria de trabalhar... Isso poderia ser verdade se não fosse o fato de eu perceber que realmente gostava do que faço somente 2 anos depois de me formar na graduação.
Mas, apesar de não me considerar ansiosa, eu já senti ansiedade e foi horrível me ver travar e até confundir meus pensamentos, ou ainda me fazer perder a esperança no futuro. Então, como combater isso?
Não tenho a resposta, não tenho nenhuma terapia e nem remédio pra indicar. A única coisa que posso compartilhar é a minha experiência. Então, posso sugerir:
- Não fique parado: faça coisas, estude coisas. O tédio vicia sim. Ele pode tanto te estagnar como pode te irritar. O medo também irá te impedir de fazer diversas coisas pois você irá sempre pensar na consequência, no depois, "e se não der certo". Eu trabalhei em muitos lugares diferentes e tive que conhecer várias pessoas desde bem nova pelo simples fato de que queria ficar o dia inteiro fora de casa. Eu era bem pouco extrovertida e foi muito difícil vencer várias barreiras, pois eu sentia medo. Na época eu não sabia, mas essa vontade de me manter em movimento me ajudou muito. Isso leva à próxima sugestão:
- Faça as coisas por vontade própria: se você começar algo porque alguém exigiu, alguém espera isso de você, repense. “Mas por que você está trabalhando vendendo sorvete?” Porque eu quis. “Mas está chovendo hoje... Por que você vai?” Porque eu quero. “Mas você não vai ficar nem mais rica nem mais pobre fazendo isso...” Mesmo assim eu quero continuar. Quando uma pessoa realmente quer fazer algo, nada poderá manipulá-la do contrário. Faça as coisas pelo prazer de terem sido feitas por você. Isso leva à próxima sugestão:
- Não tente apenas procurar por uma vocação, mas transforme tudo que é feito por você: algumas pessoas nascem com dons e sabem desde sempre o que querem fazer para o resto da vida. Acredito que essas pessoas são raras. No meu caso eu tive que praticar muito o que faço pra realmente saber que quando eu faço fica bom. Eu transformei algo que não conhecia em uma coisa que posso considerar que faço bem. Isso demorou muito tempo e sofri muito praticando. Eu poderia ser ótima em outra coisa também, se tivesse tomado outra decisão. O segredo então é praticar. As pessoas esquecem que até o bebê aprender a andar ele cai várias vezes, mas se levanta mesmo assim. Acredito que podemos fazer várias coisas e ficar muito profissionais nelas, mas somente treinando muito isso pode acontecer. Isso leva à última sugestão e que diretamente pode gerar ansiedade:
- A única coisa no mundo que você pode controlar é a si mesmo: deve existir algum estudo sobre isso, mas vou falar de forma bem casual. Cada pessoa pode ser resultado de um conjunto de fatores ao seu redor: a família em que foi criada, a sociedade em que vive, a escola que frequentou, seu país com suas leis e religiões, seus ídolos e ideologias, a posição dos astros no dia em que nasceu... São tantas coisas influenciando que eu me pergunto: quais delas posso controlar ou prever? Nenhuma! A única coisa que podemos controlar são nossas ações. Esperar que todos os outros fatores estejam como a gente gostaria é praticamente esperar o impossível. E isso leva a mãe de todas as frustrações: a expectativa. Criar expectativa sobre o que não podemos controlar é jogar a culpa no mundo pelo resultado de tudo que pode acontecer. A crise política, a situação econômica, a rejeição amorosa, tudo isso pode até reduzir nosso potencial, mas nunca deve limitar.
A própria sociedade exige que sejamos controladores. Acredito que é bem diferente disso. O mundo não vai mudar à força, não precisamos de mais imposição. Só podemos mudar o mundo de dentro pra fora e, quem sabe, influenciar e transformar as coisas ao nosso redor através das nossas ações.