6 de outubro de 2016

Móbil

Seguir em frente dói. O estado natural dos corpos sempre tenderá ao conforto e ao chão firme (ou às vezes à uma cama quentinha em casa). Então, geralmente, seguir em frente realmente dói.

É como os dentes do siso que você sabe que precisam sair dali. Arrancá-los é tão difícil quanto deixá-los. Ainda mais porque o momento de dar adeus aos dentes vai chegar justamente naquela viagem, naquele show ou na coisa mais legal que poderia acontecer no ano inteiro.

Seguir em frente dói como chegar exausto de um dia em que todas as suas forças foram consumidas pelos outros e não sobrou nada pra você mesmo. Mas você precisa ter forças. Você precisa fazer coisas e tomar decisões mesmo que elas sejam difíceis, novas ou amedrontadoras.

Seguir em frente é particularmente difícil nesses dias.

Seguir será difícil porque serão necessários muitos “não”, poucos “sim” e vários “estou com medo”. E cada escolha feita irá pairar como uma espada sobre o seu dia te fazendo pensar “por que eu comecei isso, mesmo? ”.

É difícil seguir em frente porque você vai ter que se olhar no espelho e aceitar que este rosto e este corpo não são seus por acaso, mas sim porque só você saberá o que é melhor pra ele. E somente você poderá fazer algo por si mesmo na maioria das vezes.

Seguir em frente é difícil porque quando você estiver só começando vão surgir milhões de problemas no caminho (e eles nem estavam ali há um minuto atrás).

Seguir em frente sempre será contra o vento e tomar impulso cansa tanto quanto aumenta o desejo de voltar pra cama quentinha de casa.

Você pode até achar que alguém vai te impulsionar ou avisar o momento certo de seguir em frente. Esse alguém pode nunca chegar, mas também não precisa de pressa. Você mesmo saberá o exato momento de seguir em frente. Será o momento em que irá doer tudo e com tanta força que o único alívio será seguir.



12 de setembro de 2016

O som mais bonito do mundo

Não faz muito tempo - apesar de eu não identificar o exato momento - acabei descobrindo o som mais bonito do mundo. Talvez a descoberta não tenha surgido em um estalo, mas gradativamente o som foi ficando mais familiar pra mim. Foi como se, ao ouvir, eu tenha me deparado com sua existência bem ali do meu lado.

Até ali eu tinha um nervosismo contido, uma ansiedade muda. É estranho colocar em palavras coisas que eu achava que faziam parte do que eu sou. Mas era mais ou menos isso: uma inquietude que, por ter surgido do nada, eu não sabia que estava ali havia tanto tempo. Essa sensação me fazia entrar em uma busca incessante por significado até nas coisas mais simples. E, ao não encontrar nada disso, nem compreender os sentimentos - principalmente os meus - eu me tornava totalmente avessa à eles. Eu era consciente da indiferença, do desdém que eu mesma construía.

E então surgiu o som, tão quente e tão leve, capaz de flutuar no topo do mais alto muro já construído. Um som que vinha em forma de riso e que não buscava nada mais complexo do que isso. A minha mente ainda dava várias voltas tentando decifrar o que estava na minha frente, tentando montar um quebra cabeça provavelmente muito complexo. Mas não existia complexidade. Não havia quebra cabeça algum. Era tudo muito simples e claro. Eu só precisava entender que nem tudo estava escondido, nem tudo estava longe e nem tudo era difícil de se alcançar. Não haviam mais altos e baixos. Enfim era tudo equilíbrio.

Muitas coisas não tem começo nem fim exatos. Não tem forma, quantidade ou extensão. Algumas coisas também não são tão complexas quanto a gente faz ser. Todo o meu esforço em compreender, ponderar e decifrar sentimentos seria em vão se eu não conseguisse reconhecer o som mais bonito do mundo que, ao chegar aos meus ouvidos, me faria querer sorrir também.


Little Oil Art

20 de julho de 2016

Cabo de guerra

Todo dia uma nova luta.
Todo dia esperam que eu escolha um dos lados, que eu me posicione.
A todo momento esperam de mim opiniões. Sobre tudo, sobre todos, sobre o que eu nem conheço.
Na minha frente, o botão vermelho e o botão verde. Escolha agora.

Todo terreno está parecendo muito delicado de pisar. Cada pessoa tem experiências distintas, reage de forma diferente aos fatos, às coisas que acontecem no mundo hoje. O que eu acho correto agora é fruto de muitos fatores e experiências particulares. E elas vão mudando conforme eu vou mudando. Então, como saberei se estou certa? E se eu morasse na Índia, pensaria da mesma forma? E se eu vivesse no século passado? Será que vou pensar o mesmo daqui 5 minutos?

Aqui eu me esforço pro visitante que chegou em casa não tirar os sapatos pra entrar. Do outro lado do mundo isso seria desconfortável. Aqui me dizem que é vantagem aplicar o mínimo esforço na maioria das vezes. Em algum outro lugar do mundo a vantagem é aplicar o máximo esforço em quantas vezes forem necessárias.

Eu estou certa? Eu estou errada? Nestas coisas, depende. Posso travar uma árdua batalha sobre como as coisas são por aqui e acabar empatando miseravelmente, pois, em outro lugar do mundo essas mesmas coisas não fariam o menor sentido.

Só posso concluir, então, que não sei tudo. Aliás, eu sei bem pouco. Então talvez eu esteja discutindo as coisas erradas. Talvez algumas respostas, para essas perguntas e tantas outras, sejam "depende". Depende do que você viveu.

Mudar as perguntas e cada vez mais buscar o consenso parece ser a saída ideal. Não o consenso imposto, mas sim algo que venha de dentro. Consenso esse em que todas as ideias possam ser ouvidas, todas as particularidades sejam consideradas e o que é "certo" possa ser aplicado a todos, sem distinção... Pois, qualquer coisa diferente disso não deve ser tão certa assim.

Christian Schloe

24 de maio de 2016

Mirrors II

Conheça a si mesmo. Torne isso a sua missão. Faça disso a coisa mais preciosa que tens. Conheça o seu corpo, todos os detalhes. Entenda seus sentimentos. E entenda como eles funcionam. Ao que eles reagem? O que move você? O que te paralisa?

Converse consigo mesmo. Procure se conhecer, ainda que seja mais fácil e rápido entender os outros. Volte seus olhos para si, ainda que seja mais fácil se esconder.

Descubra pelo que o seu coração bate de verdade. Tente sentir as coisas com o seu coração. Não deixe que te digam ou que te ensinem sobre o que você deve se importar.

Não deixe que te digam o que comprar.
Não deixe que te digam o que combina com você.
Não deixe que te digam a quem deve amar ou deixar para trás.
Não deixe que você mesmo se boicote.
Nunca deixe que alguém te diga o que é importante pra você.

Todos estão perdidos. Mas se você se encontrar dentro de si, nunca mais se sentirá sozinho.


23 de maio de 2016

Muro invisível

Não sei bem como constatei isso (eu sempre tive muitas dúvidas) ou em que época da vida acabei me aperfeiçoando mais, porém percebi que sou dotada de bem pouca ansiedade. À primeira vista pode parecer tranquilidade ou paciência. Mesmo assim, às vezes eu falo demais, converso rápido, faço muitas coisas e estou sempre sem tempo pra nada, mas foram poucas às vezes que meu humor se alterou a ponto de causar estranhamento às pessoas ao meu redor. “Mas como assim? Seu signo é gêmeos”, me disseram.

Então talvez essa ausência de ansiedade veio naturalmente devido ao fato de eu ter nascido em berço de ouro e me sentir segura... Bom, eu não tive isso. Acredito que ver meus pais trabalharem o dia inteiro pra pagar as contas enquanto eu terminava o ensino médio em escola pública não sejam fatos suficientes pra me tornarem uma pessoa segura e sem ansiedade.

Pode ter sido então a minha convicção sobre o que cursar na faculdade ou com o que eu gostaria de trabalhar... Isso poderia ser verdade se não fosse o fato de eu perceber que realmente gostava do que faço somente 2 anos depois de me formar na graduação.

Mas, apesar de não me considerar ansiosa, eu já senti ansiedade e foi horrível me ver travar e até confundir meus pensamentos, ou ainda me fazer perder a esperança no futuro. Então, como combater isso?

Não tenho a resposta, não tenho nenhuma terapia e nem remédio pra indicar. A única coisa que posso compartilhar é a minha experiência. Então, posso sugerir:

- Não fique parado: faça coisas, estude coisas. O tédio vicia sim. Ele pode tanto te estagnar como pode te irritar. O medo também irá te impedir de fazer diversas coisas pois você irá sempre pensar na consequência, no depois, "e se não der certo". Eu trabalhei em muitos lugares diferentes e tive que conhecer várias pessoas desde bem nova pelo simples fato de que queria ficar o dia inteiro fora de casa. Eu era bem pouco extrovertida e foi muito difícil vencer várias barreiras, pois eu sentia medo. Na época eu não sabia, mas essa vontade de me manter em movimento me ajudou muito. Isso leva à próxima sugestão:

- Faça as coisas por vontade própria: se você começar algo porque alguém exigiu, alguém espera isso de você, repense. “Mas por que você está trabalhando vendendo sorvete?” Porque eu quis. “Mas está chovendo hoje... Por que você vai?” Porque eu quero. “Mas você não vai ficar nem mais rica nem mais pobre fazendo isso...” Mesmo assim eu quero continuar. Quando uma pessoa realmente quer fazer algo, nada poderá manipulá-la do contrário. Faça as coisas pelo prazer de terem sido feitas por você. Isso leva à próxima sugestão:

- Não tente apenas procurar por uma vocação, mas transforme tudo que é feito por você: algumas pessoas nascem com dons e sabem desde sempre o que querem fazer para o resto da vida. Acredito que essas pessoas são raras. No meu caso eu tive que praticar muito o que faço pra realmente saber que quando eu faço fica bom. Eu transformei algo que não conhecia em uma coisa que posso considerar que faço bem. Isso demorou muito tempo e sofri muito praticando. Eu poderia ser ótima em outra coisa também, se tivesse tomado outra decisão. O segredo então é praticar. As pessoas esquecem que até o bebê aprender a andar ele cai várias vezes, mas se levanta mesmo assim. Acredito que podemos fazer várias coisas e ficar muito profissionais nelas, mas somente treinando muito isso pode acontecer. Isso leva à última sugestão e que diretamente pode gerar ansiedade:

- A única coisa no mundo que você pode controlar é a si mesmo: deve existir algum estudo sobre isso, mas vou falar de forma bem casual. Cada pessoa pode ser resultado de um conjunto de fatores ao seu redor: a família em que foi criada, a sociedade em que vive, a escola que frequentou, seu país com suas leis e religiões, seus ídolos e ideologias, a posição dos astros no dia em que nasceu... São tantas coisas influenciando que eu me pergunto: quais delas posso controlar ou prever? Nenhuma! A única coisa que podemos controlar são nossas ações. Esperar que todos os outros fatores estejam como a gente gostaria é praticamente esperar o impossível. E isso leva a mãe de todas as frustrações: a expectativa. Criar expectativa sobre o que não podemos controlar é jogar a culpa no mundo pelo resultado de tudo que pode acontecer. A crise política, a situação econômica, a rejeição amorosa, tudo isso pode até reduzir nosso potencial, mas nunca deve limitar.

A própria sociedade exige que sejamos controladores. Acredito que é bem diferente disso. O mundo não vai mudar à força, não precisamos de mais imposição. Só podemos mudar o mundo de dentro pra fora e, quem sabe, influenciar e transformar as coisas ao nosso redor através das nossas ações.