29 de abril de 2013

Implosão

"Smells like teen spirit" não podia tocar em melhor hora pra traduzir a sensação de corpo e espírito livres. Novamente da janela de um ônibus, novamente uma lua farta clareando a penumbra. Novamente a sensação de querer mostrar pra pessoa do lado o quanto "isso" é bom. Mas não, não haveria entendimento, palavras, gestos, nenhum sinal seria tão fiel a esse sentimento.

Quase uma explosão. E por não explodir tudo é ainda mais simples, pequeno e ao mesmo tempo gigantesco. Sentir o sangue correr o mais rápido possível, o coração crescer mais do que o meu próprio tamanho. E perceber que isso vem de dentro. De nenhum outro lugar se não de dentro.


25 de abril de 2013

Impremeditado

Quebrada.
Não. Trincada.
Sem fome. Sem frio. Marcas de guerra, apenas.
Vamos falar sobre qualquer coisa.
Bomba caseira.
Míssil republicano.
Sem fome. Um pouco de frio.
Perdendo sangue no campo de batalha. Muito frio.
2 + 2 = ninguém se importa com os outros. Não existe mais plural.
Bandeira branca. Bombardeada.
Mãos dadas. Segurando a granada.



Puxe o pino.
Corra. Caia. Morra.




24 de abril de 2013

Quarta-feira: o paraíso

"(Tell me!) Tell me; where is the love?
In a careless creation?
When there's no 'above'...




I know there's no reason for alarm
But who needs perspective when it comes to pain and harm?
We can change our minds; there's a better prize

But first you've got to..."

Bad Religion - God's Love

23 de abril de 2013

Terça-feira: o purgatório

"Hope you won't forget
hope you know that I'll always regret
those things I said
hope you know that I can clearly see."




Less Than Jake - Ghosts Of You And Me

22 de abril de 2013

Segunda-feira: o inferno

"[...] Please be the one to take my tears away

I was 22, I've had my share of views
I just can't steal that "happiness" from you
But I'll be the one to take your tears away."


The Dears - 22 The Death Of All The Romance

Atividade alternativa 2

Tristeza, raiva, ódio, medo, dor. Nada disso passa pela minha cabeça enquanto mantenho meus pés ocupados. Aliás, nenhum pensamento me domina enquanto entro em contato com o ar do fim de tarde, mais rápido, mais devagar, dançando entre bancos de concreto ou tomando velocidade a favor do vento. Dá pra sentir o frio chegando, entrando sutilmente em um mês ensolarado. E as pessoas caminham, jogam bola com crianças e aproveitam os últimos minutos de sol pois também sabem o que eu sei: alguns momentos são únicos. 



Encontrei o placebo correto para todos os tipos de males. A mente repousa enquanto as pernas se cansam em voltas, e voltas, e voltas, e voltas.

15 de abril de 2013

Sobre as voltas que o mundo não dá

Todas as pessoas que eu poderia ser ou tudo que eu poderia viver, lembro-me de tudo ao acordar as 5 da manhã. E se as vezes não acordo tão cedo, se acabo não lembrando, nunca mais irei descobrir qual foi a vida que roubei em cada uma das noites de sonhos que tive. Esse é o grande dilema: será que sou resultado dos meus sonhos, mesmo sem ter pleno conhecimento deles? Ou será que meus sonhos são resultado dos meus desejos?


7 de abril de 2013

Conjugação de todos os verbos que existem na 1ª pessoa do plural

Se pensarmos que não estamos sozinhos (como de fato não estamos) algumas portas poderiam ser abertas na mente. O que não podemos ver não significa que não exista, assim como as coisas que existem não tem garantia de vida eterna. Mas, pra algumas pessoas, a busca por algo maior com significado divino se materializa em crenças, boas ou ruins. A sensação de não estar sozinho, do medo, é um dos grandes motivadores pra isso. Vejamos, pois nunca estaremos sozinhos: como pessoa, sou Eu. Porém, como células, órgãos, somos Nós trabalhando para que todo o conjunto viva, mesmo que tudo seja tão pequeno e insignificante. Células, órgãos, o ar respirado e a luz que me faz enxergar somos Nós. A nuvem que passa, a estrela morta que ainda brilha, aquele peixe sendo fisgado no mar e todas as células do corpo somos Nós. Então as pessoas criam seres superiores para se sentirem inferiores (precisam idolatrar algo) e tomam posse do que não é seu para se sentirem superiores novamente (precisam ser idolatrados por algo). Bobos, ainda não se decidiram entre o Eu e o Meu, quando poderiam ser simplesmente Nós. "Minhas células, minha casa, minhas flores, minha estrela, meus animais, minha mente, só minha". Pertences e mais pertences acumulados sem realmente fazer parte de nada. Sem nem poder controlar coisa alguma.




Se retirada uma célula do meu corpo ela ainda será parte do "Nós", então todo o resto também será.

The Skeleton Dance (at 3:30 A.M.)

Hora dos monstros sairem às ruas. O ar é mais puro e mais verde, metade do céu de estrelas já desfilou por nossas cabeças. O silêncio é quebrado pelo som dos insetos, ou por passos arrastados... As corujas já não me assustam mais. Fizemos mais um pacto: elas cultuam a noite e fingimos que estão me fazendo companhia. A lua minguante dá um sorriso de gato da Alice. O mundo das maravilhas começou de madrugada, mais especificamente há alguns minutos. Os sons de pneus em "cavalos de pau" já se foram, a juventude caiu bêbada em suas camas. Cachorros latindo temem por algo que eu desconheço. E param. E outro recomeça lá longe pra continuar a comunicação noturna. A noite é quente, mas o ar é sempre gelado. Mas acho que monstros não usam casaco. Nem corujas. Os cachorrinhos latindo, às vezes sim. Não há vento, mas as árvores se mexem ganhando vida a cada respirada de oxigênio. Monstros respiram? Ninguém responde, silêncio. Exceto pelos passos. E pelas gargalhadas silenciosas da lua minguante.